O vice-presidente do Fundo de Garantia Africano disse hoje que esta instituição financeira de garantias bancárias está a preparar a entrada em Angola, juntando-se aos 40 países africanos onde o Fundo está presente. É, com certeza, uma preparação demorada já que tem sido sucessivamente anunciada e adiada.
“A té ao final do ano devemos entrar em Angola. Já tentámos, mas o problema era que não tínhamos ‘rating’ atribuído, mas desde o ano passado que a Fitch nos atribui uma notação financeira de AA, por isso ainda este ano devemos entrar em Angola”, disse Jules Ngankam em declarações à Lusa.
O Fundo de Garantia Africano é uma instituição financeira que tem como objectivo “eliminar as lacunas entre as Pequenas e Médias Empresas [PME] e as instituições financeiras no continente”, disse o director financeiro do Fundo e antigo gestor de activos no Banco Barclays.
“Este ‘gap’ é uma consequência do défice de comunicação que existe em termos de informação, de recursos, de garantias colaterais, de talento e de risco”, apontou o responsável.
O modelo de negócio visa oferecer a garantia de pagamento ao banco caso o cliente não consiga cumprir as obrigações, funcionando como um seguro de crédito, explicou Jules Ngankam.
Vocacionado para apoiar o desenvolvimento, o Fundo tem um modelo de negócio em que a margem de lucro provém da taxa que cobra aos bancos quando segura os empréstimos. “Os bancos pagam-nos um prémio de risco de 1,5% a 3%, dependendo do nível de risco, e que é retirado dos cerca de 10% que cobram em juros aos clientes”, explicou o responsável, salientando que “o principal foco do Fundo é o desenvolvimento económico e a redução da pobreza”.
Nos próximos anos, o objectivo é “aumentar os quase mil milhões de dólares que já garantimos e expandir a nossa presença a todo o continente africano”, vincou Jules Ngankam, que lembrou que o objectivo para este ano é ir novamente ao mercado para angariar cerca de 500 milhões de dólares.
“Existe um ‘gap’ de 150 mil milhões de dólares entre o que as PME precisam e o que os bancos e investidores estão dispostos a financiar”, vincou, salientando que o Fundo funciona em termos de garantia dos empréstimos feitos pelos bancos e pela fornecimento de assistência técnica aos clientes que beneficiam desses empréstimos.
“Quando um banco não quer assumir todo o risco de um empréstimo, nós somos contactados para cobrir o risco de metade do empréstimo, e assim se o cliente não conseguir pagar, nós suportamos metade do montante, e só não financiamos tudo porque, por princípio, o banco tem também de assumir algum risco”, acrescentou o vice-presidente do Fundo.
Em Moçambique, o Fundo assinou um acordo com o Moza Banco e o Ecobank, tendo garantido 4 milhões de dólares em vários projectos que não são divulgados porque “a transacção é ao nível do banco e muitas vezes os clientes nem sabem que o seu empréstimo é segurado por nós, há uma garantia silenciosa”, explicou.
O Fundo de Garantia Africano, fundado na Tanzânia em 2012 pelo antigo presidente do Banco Africano de Desenvolvimento Donald Kaberuka e os governos da Dinamarca e de Espanha, funciona em 40 países no continente, tendo feito um acordo com mais de 100 bancos para empréstimos e assistência a mais de 20 mil PME e tem como missão “ajudar as instituições financeiras a aumentar o financiamento às PME africanas através de garantias financeiras parciais e assistência em temos de desenvolvimento de capacidades”.
O relatório intitulado de “Criação de Emprego na África Subsaariana: Empreendedores. Governos. Inovação,” mostra a prevalência de uma cultura de empreendedorismo crescente. Em Angola, Gana, Moçambique e Nigéria, 72% dos inquiridos afirmou que prefere iniciar a sua própria empresa a trabalhar por conta de outrem. É uma visão essencial que apresenta uma África sedutora, com um mercado regional dinâmico e diversificado. É, de facto, evidente que o tempo veio a dar enfoque ao fortalecimento do sector das PME da região, principalmente no que se refere à criação de emprego, permitindo que se desenrole a uma maior velocidade.
A maioria dos inquiridos acredita que com reinvestimentos contínuos nos recursos naturais, políticas fortes e um melhor acesso ao capital, os empreendedores africanos poderão vir a ser os maiores empregadores da região. Com base nos resultados do relatório, torna-se ainda mais claro que há uma mentalidade empreendedora e vibrante a tomar conta da África Subsaariana – especialmente nos grandes sectores como a agricultura, os recursos naturais e a tecnologia.
Felix Bikpo, CEO do Fundo de Garantia Africano (AGF), disse recentemente que a organização está a financiar o reforço de capacidades para os jovens empreendedores que tenham por objectivo criar mais de 10 mil novos postos de trabalho por ano. É óbvio que a educação e o desenvolvimento de competências precisam de continuar no centro das políticas económicas, pois sem elas os cérebros do continente poderão ter que travar muitas lutas para vencerem.
Folha 8 com Lusa